Trabalho brasileiro analisou variabilidade da frequência cardíaca em pacientes que tiveram doença leve
Por O Globo — Rio de Janeiro
Aldair Darlan Santos-de-Araújo, pesquisador da UFSCar e primeiro autor do artigo, lembra que uma série de estudos já destacaram os impactos do vírus no sistema cardiovascular, levando ao aumento de uma série de doenças como trombose e infarto.
— Nossa pesquisa contribui para a confirmação desse impacto e demonstra que ele pode acontecer também em indivíduos jovens ou de meia-idade que tiveram Covid leve e não precisaram ser hospitalizados — afirma à Agência Fapesp. Para Audrey Borghi Silva, coordenadora do Laboratório de Fisioterapia Cardiopulmonar (Lacap) da UFSCar, o trabalho “reforça a necessidade de programas de reabilitação até para pessoas que tiveram Covid leve”.
O trabalho brasileiro também encontrou um desequilíbrio na relação entre o sistema nervoso simpático e o parassimpático. O primeiro é responsável por aumentar a frequência cardíaca em situações atípicas, como as que envolvem perigo e medo, enquanto o parassimpático faz o coração desacelerar quando necessário.
— O bom funcionamento cardiovascular exige um equilíbrio entre esses dois mecanismos, mas o que observamos é que o impacto negativo da infecção pela Covid-19 nesses indivíduos provocou um desbalanço no sistema nervoso autônomo. O padrão observado – de redução da variabilidade da frequência cardíaca e predominância do sistema nervoso simpático – indica não apenas diminuição da modulação autonômica global, mas também sugere uma maior probabilidade de desfechos cardiovasculares desfavoráveis — explica Santos-de-Araújo. Além disso, o trabalho mostra que a dispneia (falta de ar) é o sintoma mais comum entre os indivíduos com pior modulação autonômica cardíaca, que também relataram tosse, fadiga, cefaleia (dor de cabeça), perda do paladar, ansiedade e coriza.
A boa notícia é que o desequilíbrio foi mais comum entre não vacinados e que o estudo aponta para uma fase de recuperação da função cardíaca, já que os indivíduos com mais tempo desde a infecção apresentaram um comportamento melhor do equilíbrio simpático-parassimpático e menor variabilidade da frequência cardíaca.
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