Criptomoedas movimentam mais de R$ 200 bi no Brasil em 2024; há expectativa por maior regulação do setor


Por Matheus dos Santos | Folhapress

 

Foto: Michael Wensch/Domínio Público

Na última semana (29), o Bitcoin atingiu um recorde histórico em reais, alcançando os R$ 400 mil. A valorização foi motivada pela eleição norte-americana –e pela possibilidade de uma vitória de Donald Trump, visto como mais pró-cripto pelo setor. O investimento, contudo, não é para todos e é indicado para aqueles com maior tolerância à volatilidade do mercado.
Criada em 2009, o Bitcoin é a criptomoeda mais popular do mercado de ativos. Segundo a plataforma de dados CoinMarketCap, ela ocupa 59% da capitalização do mercado de criptomoedas. A métrica considera o preço atual e a circulação do ativo no mundo.

Segundo dados da Receita Federal, divulgados em outubro, o mercado de criptomoedas movimentou R$ 248 bilhões no Brasil entre janeiro e setembro deste ano.
O Tether USDT e a USD Coin, criptomoedas indexadas ao dólar, e o Bitcoin (BTC), ativo mais popular do setor, foram os mais negociados do período. As criptos movimentaram R$ 153,7 bilhões, R$ 9,9 bilhões e R$ 35 bilhões no país, respectivamente

Os números podem ser mais altos, porque pessoas com menos de R$ 5.000 em criptos, segundo a legislação, não são obrigadas a informá-las ao órgão.

Hoje, existem mais de 9.000 criptomoedas em circulação no mundo. Em seguida ao Bitcoin, de acordo com informações da CoinMarketCap, a segunda moeda com maior circulação é a Ethereum, que representa 13% do mercado. Binance Coin (BNB), Tether, Solana, entre outras, somam, juntas, 28% do mercado.
Especialistas do setor afirmam que não há um perfil específico de investidor para o qual as criptos são recomendadas. Eles identificam uma mudança nos últimos anos.

“No passado, era algo que despertava interesse de quem estava ligado à tecnologia. Hoje, é encarado como um ativo que pode compor uma carteira diversificada. É um debate sobre ‘o quanto’ alocar e não ‘se’. Pode-se começar com 3% e evoluir para 10%, por exemplo, pensando no horizonte de longo prazo”, diz Fabricio Tota, diretor de novos negócios do Mercado Bitcoin.
Para Juliana Inhasz, professora de economia do Insper, a pessoa que quer investir em cripto precisa ter uma maior aceitação à renda variável. Aplicar em ETFs (fundos negociados em Bolsa) pode ser uma opção mais aceitável a esse público, afirma.

“A grande vantagem dos ETFs é comprar uma cesta de moedas. Você não precisa apostar em um só produto. Isso permite equilibrar os impactos de uma aplicação com os ganhos de outra”, diz.
Ela, contudo, destaca que o investimento exige um cuidado com o gestor do fundo. “Um profissional com conhecimento do mercado confere um retorno esperado maior e evita problemas.”

Especialistas também recomendam que o investidor fique atento ao momento e às condições macroeconômicas antes de investir. As eleições americanas foram um dos fatores para a alta do BTC nesta semana que, segundo dados do Mercado Bitcoin, tem rentabilidade de 144% nos últimos 12 meses.
Segundo Cristiano Corrêa, professor de finanças e mercado financeiro do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), um bom caminho para a renda variável é explorar a entrada e saída de um investimento. “O papel tem um ciclo, e as pessoas costumam investir quando o preço da aplicação começa a subir ou já está mais caro”.
Para Bárbara Espir, CEO da Bitso Brasil, uma fintech de cripto, há semelhança com o mercado de ações. “Entra na máxima histórica e todos falam ‘preciso comprar, pode ser que suba mais’.” Ela alerta para o risco da volatilidade: “Uma ação que custa R$ 35 pode voltar a custar R$ 10”.
Para se resguardar, o investidor deve pesquisar sobre o setor e ter responsabilidade. “A dica é começar devagar, entender a operação em cripto e pesquisar a empresa de onde você está comprando. O dinheiro alocado é aquele que não se precisa no curto prazo. Não se investe o dinheiro do aluguel”, diz.
Corrêa, do Ibmec, também recomenda atenção a ganhos irreais e promessas. “Desconfie se o ganho for muito grande e garantido. Como não se tem controle do mercado, não se pode garantir nada”, afirma.
REGULAMENTAÇÃO AINDA É AGUARDADA
Entre profissionais e estudiosos do setor, é consenso que há espaço para uma maior regulação das criptomoedas no Brasil, que pode trazer mais estabilidade e organização ao setor. Segundo o decreto 11.563, de junho de 2023, a competência para regular a prestação de serviços de ativos virtuais é do Banco Central.
“As consultas públicas que o BC planeja conduzir como parte do processo regulatório, bem como as decisões tomadas pelo órgão, serão essenciais para compreender as medidas que serão adotadas e limitar os riscos associados a sistemas sem governança centralizada, disse Marcelo Cárgano, advogado da Abe Advogados e especializado em regulação e proteção de dados pessoais e privacidade, à Folha de S.Paulo em janeiro deste ano.
Segundo a instituição, a regulação dos prestadores de serviço e cambial das criptomoedas está na agenda de 2024. Empresas do setor informaram à Folha de S.Paulo que tinham expectativa por novidades em outubro, o que não ocorreu.
Em 2022, a Câmara aprovou o Marco Legal dos Criptoativos, que define os princípios gerais do setor. A lei exige que as empresas que operam no mercado de criptoativos tenham sede no Brasil.
O marco regulatório também prevê punições em diferentes esferas, incluindo a criminal. O Código Penal considera fraudes com utilização de ativos virtuais, valores mobiliários ou ativos financeiros como um caso de estelionato, com pena de quatro a oito anos de prisão, além de multa.